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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Editorial

Artigo de Bolivar Lamounier - cientista político, Revista EXAME

...admitiria que a eleição de 2010 foi um estelionato eleitoral de dimensões ainda maiores. Pela gastança do governo e pelo retardamento de medidas contra a inflação, desde logo. Pelo anúncio de obras e realizações que nunca saíram do papel, também. Mas sobre tudo pela sistemática ocultação da candidata à presidência.

Até a undécima hora, Dilma Rousseff foi uma candidata rigorosamente clandestina. Foi só na undécima hora que Lula concedeu aos cidadãos-eleitores o direito de saber alguma coisa a respeito dela. Durante quase dois anos, a imagem da super-tecnocrata (a responsável pelos “sucessos” do governo, a “mãe do PAC” etc) foi meticulosamente construída como um puro produto de marketing.

Os acontecimentos dos últimos dias começaram a evidenciar o pleno significado e as graves implicações do fato evocado no parágrafo anterior. Durante meses, e por diferentes ângulos, os observadores mais atentos anteciparam os problemas a que a clandestinidade de Dilma Rousseff provavelmente daria ensejo.

À parte os seus supostos conhecimentos técnicos, teria ela condições de compensar a sua evidente inexperiência no campo político? Seria capaz de arbitrar o jogo nem sempre leal ou cordial entre os partidos que a iriam apoiar no Congresso? Em todos esses aspectos, quem a afiançava era única e exclusivamente o seu mentor, Lula.

Juntando a possível incapacidade de Dilma com a super-popularidade e as mal-disfarçadas ambições políticas do próprio Lula, não era difícil perceber que um dilema. Com sua provável debilidade política, como poderia Dilma Rousseff se desprender da figura dominadora de Lula?

Uma eleição não é uma mera coleta de opiniões. Não é uma simples oportunidade para os cidadãos manifestarem suas preferências.

Na eleição presidencial, quando tecla o seu voto, o que o cidadão faz é decidir a quem vai entregar o comando do Estado. Ao candidato de sua escolha, o eleitor entrega um feixe de poderes. Desde logo, o poder de representá-lo, de falar e agir em nome dele, dentro e fora do país. E obviamente o poder de decisão.

Quando digo “o eleitor”, quero dizer todo o corpo eleitoral. Do ponto de vista constitucional, a distinção entre vitoriosos e derrotados é irrelevante. Os derrotados participaram, legitimaram e acataram o resultado das urnas. Portanto, em 2010, não foram só os petistas, lulistas, peemedebistas ou o que seja que decidiram entregar os poderes da Presidência a uma pessoa chamada Dilma Rousseff. Fomos todos nós , os 130 milhões de eleitores. 

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