Em 05 de Outubro de 1988, Dr. Ulysses repetiu a frase ao promulgar a “Constituição Cidadã”, e terminou seu discurso esbravejando: “A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja nosso grito: – Mudar para vencer! Muda, Brasil!”.
Ulysses
Guimarães morreu em 12 de Outubro de 1992, pouco tempo depois do início do processo de impeachment contra o
1º Presidente eleito pelo povo, após longos 29 anos desde a última eleição
presidencial. Para completar, a inflação ainda era galopante, a democracia apenas engatinhava; a
instabilidade era a regra, na seara política e econômica.
Eu
nasci em Novembro de 1993, poucos meses antes do Plano Real e das eleições que
levariam Fernando Henrique à Presidência. Vivi
parte da minha infância no segundo mandato de FH, assisti a eleição de Lula e a
celebração da democracia, que em 2003, viu pela primeira vez em mais de 80
anos, um Presidente eleito passar a faixa para outro presidente eleito. Me
formei, durante o Governo Lula, votei pela primeira vez na eleição de Dilma
(embora não tenha votado nela), ingressei na Faculdade no mandato da 1ª
mulher a se tornar Presidente do Brasil, e já caminhamos a passos largos rumo a uma nova eleição.
Se
me perguntarem se o Brasil mudou nesses 25 anos, desde a promulgação da
Constituição, tudo o que disser será apenas especulação, lida nos livros de
história, e discutida nas rodas de conversa, porque de fato, nasci e cresci em
um Brasil diferente, transformado; num outro Brasil.
Nesse
ponto do texto, tenho que dizer que o Brasil não começou a mudar em 2003, como
alguns insistem em contar; o Brasil em que nasci e cresci não mudou por causa
de um homem ou um partido, nem mudou do dia pra noite. É um processo difícil e
constante em que todos e cada um em particular, seja trabalhador de fábrica ou
Presidente da República, acabam deixando a sua contribuição, o seu legado.
O
Brasil que conheci, já não vivia a exceção, a censura e inflação. O Brasil que me foi apresentado caminhava
rumo ao desenvolvimento econômico e social, com estabilidade política e
inviolabilidade da democracia e respeito internacional.
Apesar
dessas mudanças, isso não impediu que assistíssemos ainda hoje, as tentativas
de censura, como a perseguição de jornalistas no interior do país, e os casos de tortura dentro de presídios e batalhões de polícia.
As
mudanças promovidas nas últimas décadas, também não foram suficientes para
combater com energia o analfabetismo, que voltou a crescer, e o trabalho infantil,
que atinge mais de meio milhão de crianças.
Tais conquistas advindas com a Constituição, também não erradicaram as desigualdades sociais, econômicas e regionais (haja vista a ainda discrepância entre Norte e Sul), nem acabaram com a mazela da fome e da seca (a desse ano foi a pior dos últimos 50 anos, deixando questionamentos sobre os bilhões de reais gastos com a obra de transposição do Rio São Francisco, abandonada).
As
vitórias consagradas com a Constituição não impediram o aparelhamento do
Estado e o seu loteamento entre aliados;
também não foram suficientes para impedir que partidos se tornassem moeda de
troca, nem que o Congresso virasse balcão de negócios.
A
Constituição não deu um basta na corrupção, nem assegurou o fim da impunidade,
tão presente na realidade do povo brasileiro, em que se vê a morosidade da
justiça e a burocracia processual
trabalhando a favor da impunidade.
A
democratização e a Constituição não foram eficientes para tornar a nossa
federação, uma Federação de verdade, com Estados e municípios autônomos e
independentes, politica e financeiramente falando.
Apesar da consagração dos direitos sociais como as garantias à saúde, educação, saneamento, habitação e segurança para os cidadãos, a Constituição não conseguiu fazer com que tais serviços
atingissem nível de qualidade minimamente adequado, e democratizado de Norte a Sul do país.
A
Constituição reafirmou a independência e autonomia entre Poderes, esquecendo-se
de dizer que o Legislativo não pode abdicar do papel de investigar, nem deve
tornar-se mera repartição pública, subordinada ao detentor da chave do cofre; a
Constituição também não foi enfática ao impedir que o Judiciário seja leniente
na hora de punir, e o Executivo, omisso na hora em que deveria agir.
Como
proclamava o Dr. Ulysses, a Constituição é o "começo da mudança", assegurando
direitos, deveres, liberdades e garantias, consolidando as Instituições e
bancando a volta da democracia. E o Brasil de fato mudou ao longo desses 25 anos, e mudou pra melhor. Contudo, apesar de todo o simbolismo e significado da nossa Constituição, ela sozinha não é capaz de promover todas as transformações que almejamos.
Não
se pode ficar a espera de outros Ulysses ou Tancredos para mudar o Brasil, nem
se pode aderir à campanha por uma nova Constituinte como se ela fosse
a salvação de todos. A força da mudança não está nos incisos ou artigos da Constituição, mas na realidade prática que ela inspira e orienta, e que se constrói com ações, com políticas públicas, com projetos, com trabalho e planejamento.
Pro Brasil passar pelas Reformas que precisa, pra continuar mudando, cabe a cada cidadão em particular, querer e fazer, nas urnas e nas ruas. Por sua vez, ser cidadão não significa ter título de eleitor e votar a cada quatro anos, e sim, pensar e trabalhar para mudar o Brasil, através da conscientização e participação política, sem descanso.
É preciso reconhecer que a partir da promulgação da Constituição de 1988, o Brasil de fato começou a mudar, e precisa continuar mudando, só que com mais energia e planejamento, mais força de vontade e foco rumo ao futuro que desejamos construir.
Pro Brasil passar pelas Reformas que precisa, pra continuar mudando, cabe a cada cidadão em particular, querer e fazer, nas urnas e nas ruas. Por sua vez, ser cidadão não significa ter título de eleitor e votar a cada quatro anos, e sim, pensar e trabalhar para mudar o Brasil, através da conscientização e participação política, sem descanso.
É preciso reconhecer que a partir da promulgação da Constituição de 1988, o Brasil de fato começou a mudar, e precisa continuar mudando, só que com mais energia e planejamento, mais força de vontade e foco rumo ao futuro que desejamos construir.
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