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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Não se cura um doente a conta-gotas


Em reação às novas medidas anunciadas, de redução das tarifas de energia elétrica e concessão da malha de transportes, feitas em pronunciamento oficial da Presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e televisão, ao qual me senti obrigado a comentar.
A crise econômica mundial não é novidade, inundou a Europa e seus reflexos respingam nos quatro cantos do mundo, e o Brasil, como natural em mundo globalizado, sentiu na pele essa depressão internacional, com uma significativa desaceleração da economia, tanto no setor de produção quanto no de consumo.

O Governo, instado a reagir mediante esse esfriamento da economia, ao risco de desindustrialização e de sucessivos e preocupantes aumentos da inflação, resolveu tomar medidas pontuais como uma maior pressão para a gradativa redução dos juros, e o anúncio de pacotes setoriais de redução de impostos como o IPI. Apesar de necessários, os anúncios não foram suficientes para impulsionar a economia, que repete em 2012 a pífia taxa de crescimento do PIB, assim como em 2011.

Assim, o Governo viu que deveria fazer algo mais, e anuncia depois de meses, um incentivo à redução das taxas de energia elétrica, que por sua vez, só entrará em vigor em janeiro do ano que vem. O grande risco que corremos, é a conhecida morosidade em tomar medidas necessárias para sanar o “resfriado” brasileiro, cujo antídoto a conta-gotas pode acabar agravando o quadro, aprofundando o cenário de crise dentro do Brasil, como reflexo da letargia desta administração e deste Governo.
Na mesma “marcha lenta” o Governo anuncia um “novo e revolucionário modelo”, uma “parceria com a iniciativa privada para modernizar rodovias, ferrovias, portos e aeroportos”, só esquece de contar ao público, que esse revolucionário modelo, já existe, são as tradicionais Concessões, a exemplo do que São Paulo faz nos últimos 20 anos com suas rodovias, o que as coloca em 1º lugar, quando se compara a qualidade das rodovias Brasil à fora.

Além de vender as velhas concessões como algo “inédito”, Dilma e o Governo do PT tratam os Brasileiros como se estes não tivessem o mínimo de bom senso e memória. Dilma e o PT se vangloriam na propaganda, por terem garantindo um concreto “modelo de desenvolvimento no Brasil”, estruturado na conquista da estabilidade econômica, no amplo ajuste fiscal e na distribuição de renda, só esquece de contar que essas três bases de desenvolvimento não são fruto do Governo Lula/Dilma, e sim, do Governo Itamar/FHC.
Foi Collor, com todos os seus defeitos, quem fez a abertura econômica brasileira; foi Itamar que com diálogo e coragem deu à equipe de Fernando Henrique a carta branca para implantar o Plano Real, que apesar da oposição do PT, foi o plano bem sucedido que derrotou a inflação e mudou o Brasil; foi no Governo Fernando Henrique que os ajustes fiscais foram feitos, com a Lei de Responsabilidade Fiscal e os fundos para “salvar” bancos do colapso – que servirão de modelo para a futura restruturação da União Europeia; foi também no Governo Fernando Henrique que iniciaram-se os programas de distribuição de renda, vinculados ao incentivo à educação, como foi o Bolsa Escola, e posteriormente o Bolsa Família.

Se há algo bom feito pelo governo do PT, destaco o descumprimento de suas promessas de campanha, dando continuidade ao Plano Real, aos ajustes fiscais e a ampliação dos programas de distribuição de renda, como destaquei, sendo todas sementes da década de 90.
Mas, quando o Governo Lula deveria assumir as rédeas e dar continuidade ao “modelo de desenvolvimento”, não vimos de sua administração o compromisso em tornar o Brasil mais moderno, com sólidos investimentos em educação e infraestrutura, muito pelo contrário, assistimos nessas áreas a comprovação da sua incompetência, com os consequentes problemas nas provas do ENEM, e os diversos escândalos de corrupção envolvendo o DNIT, que seria responsável pelas obras de infraestrutura, mas se destacou pelos atrasos, irregularidades e superfaturamentos.

Agora, depois de 10 anos, Dilma e o PT descobriram que o Brasil precisa ser “competitivo”, e depois de comprovada a inconsistência do PAC, que não passou de uma sigla publicitária, o Governo decide dar o braço a torcer e faz concessões à inciativa privada, anunciando tal medida, como se isso fosse diferente das concessões e privatizações feitas na década de 90, e das aplicadas com  sucesso nos governos do Estado de São Paulo, desde a administração do saudoso Mário Covas.
Descumprindo sua palavra, e desrespeitando uma promessa de campanha, Dilma e o PT fazem concessões, o que no jargão eleitoral deles, outrora, não passava de “privataria”. Apesar da arbitrariedade e da incoerência petista, enxergo na iniciativa a importância e a necessidade, já que a infraestrutura nacional está abandonada, e o setor público, infelizmente, é burocrático, moroso, e corrupto.

O quadro clínico brasileiro comprova que apenas a continuidade dos alicerces do modelo de desenvolvimento, lançados na década de 90 não são suficientes para transformar o potencial do Brasil, em ganhos significativos para a nossa Economia. Os anos de atraso em que não se fez a lição de casa, aumentaram ainda mais o custo Brasil, o que breca o desenvolvimento econômico nacional.
A pesada carga de impostos acompanhada da ausência dos debates sobre a Reforma Tributária; as injustas e prejudiciais guerras fiscais motivadas pela falta de reestruturação do Pacto Federativo; além da conhecida e precária infraestrutura nacional, acabam por tornar o quadro ainda mais complicado para o Brasil.

Só podemos comemorar a nossa posição no ranking das maiores potências econômicas mundiais, enquanto o mundo está enfermo, e ao mesmo tempo, nos resta aguardar para que chegue ao fim a cura a conta-gotas, e o Governo decida assumir com coragem uma postura ativa para solucionar os problemas acima citados, assim, e só dessa forma, o Brasil pode deslanchar e se firmar como verdadeira potência econômica, podendo competir em “pé de igualdade” com as Nações do Mundo quando estas também estiverem recuperadas.  

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